As angústias de Demi Lovato

22 de novembro de 2010
Para as crianças e os adolescentes, Demi Lovato dispensa apresentações. Todos sabem quem ela é. Para os que têm pouco contato com o universo dos ídolos teen, informações básicas podem ser necessárias. Vamos a elas: Demi Lovato é uma estrela americana de 18 anos. É um desses talentos descobertos e formados pelos estúdios Disney. Canta, dança, interpreta, atua em filmes, séries de TV e viaja o mundo fazendo shows.

O traço mais marcante de seu rosto é o sorriso. Um sorriso rasgado, gigante, realçado por dentes alinhadíssimos. Um sorriso que contradiz, sabe-se agora, as angústias que ela enfrenta há tempos. No início do mês, Demi cancelou sua participação nos shows que o grupo Jonas Brothers faria no Brasil. Crianças e adolescentes ansiosos para ver a moça ao vivo (ou pelo menos pelo insosso telão, como sempre acontece nesses eventos), não entenderam direito por que, afinal, a estrela não apareceu.

Os organizadores da turnê deram uma justificativa telegráfica. Demi se internaria numa clínica de reabilitação para se tratar de problemas físicos e emocionais. Segundo os sites de celebridades e as agências de notícia, ela estaria se automutilando e sofrendo de transtornos alimentares. Na quarta-feira (17), surgiram boatos de que deixaria a clínica na próxima semana. O porta-voz da atriz negou. Disse que ela passará o Dia de Ação de Graças com a família, na clínica.


A primeira coisa que nos vem à mente quando ouvimos histórias como essa é que o mundo do show business é insalubre e cruel. Crianças e adolescentes submetidos precocemente a tantas exigências (de produtividade, de excelência, de sobrevivência na selva da fama) não podem mesmo acabar bem. Essa é uma meia verdade. Pensar que nossos filhos e sobrinhos estão livres desses distúrbios simplesmente porque não são artistas mirins é se refugiar no conforto da alienação.


ABC/RICK ROWELL/Divulgação
DEMI LOVATO
A estrela no American Musica Awards em 2009
A automutilação costuma começar na adolescência. É caracterizada por cortes provocados no próprio corpo com faca, gilete, arame, estilete, caco de vidro ou qualquer outro objeto cortante. A pessoa também pode se bater, se morder, se queimar. Segundo os psiquiatras, o problema não é fruto de uma pressão momentânea, de uma dificuldade circunstancial de lidar com dificuldades. Para que uma pessoa comece a se automutilar, ela precisa estar predisposta a isso. Os fatores de risco mais frequentes:

  • ter sofrido negligência, bullying ou abuso sexual na infância
  • ter baixa autoestima (sentir-se feia, gorda etc)
  • usar drogas ou ter usuários de drogas na família
  • saber que algum amigo ou parente se automutila
A automutilação não é um diagnóstico, ainda não é considerada um transtorno isolado. É um comportamento que pode ocorrer em pessoas que sofrem de outros transtornos. É comum encontrar pessoas deprimidas ou bulímicas que também praticam automutilação.

Por que, afinal, alguém faz isso? A explicação parte de duas raízes: uma biológica, outra psicológica. Quem tem o costume de se automutilar conta que não sente dor. Pelo contrário, diz sentir alívio de sensações opressoras como culpa, raiva, angústia, tristeza. Uma teoria de ordem biológica sugere que essas pessoas liberariam níveis elevados de endorfina no momento do corte. Níveis bem mais elevados do que liberam as pessoas que não sofrem desse problema e se cortam acidentalmente. Essa liberação exagerada de endorfinas seria a responsável pela sensação de bem-estar relatada por quem se automutila. O efeito dura pouco. Alguns minutos depois, a tristeza e a angústia voltam.

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